A pedra que consome o consumidor


(Lukasun)


Quando a verdade veio de frente como um tsunami caudaloso e destruidor e eu não estava preparado. Que nunca o estamos como se precisa. Sensação inútil de falta de chão e aquele aperto angustiante pregando de todos os lados como uma teia poderosa congelante e grudenta. Aquela tempestade recalcitrante escurecendo tudo em volta cerrando as portas e apagando as luzes para não encontrar saída.
Quando aquela verdade ressurgiu incapacitante deixando no ar um cheiro defumado de coisa repassada como se esquecida em um canto fosse de repente descortinada por um holofote duro gelando todos os sentidos humanos compreensíveis. Destruindo a lógica e limitando tudo a algum tipo de consciência  paralela de uma lógica transversa como um olhar esguelho funestamente contraditório de tudo que fosse realmente lógico imaginar.
Eras outra pessoa?
Onde poderias estar à primeira persona naquele  tanto de tempo. Esvaindo-se como se morresses em pedaços cada vez e fosses sendo substituída em fleches alternados  cada vez menos intensos em quadros de cenas dantescas ou de cenários dos mundos de Tien-tai. Tinha ali os componentes do infernal, insaciedade e um arfar animalesco numa transição para uma agonia que espreme a alma... uma metade arrancada de mim se transformando numa máscara aquela imagem querida dantes.
E a alma... o que é senão um espírito fugidio e confuso vivendo de consumir as sombras da existência quadro a quadro emitindo momentos de claridade e outros de escuridão.
Onde estarás que não emerges como dantes. Onde estará.
Procuro-te no fundo dos olhos e as vezes consigo ver-te em desespero, em compaixão ou simplesmente se deixando levar para o fundo até que o “poltergeist” se transforma apenas em um ponto como numa tv antiga e já não consigo te encontrar então.
Uma raiva surda toma conta como se te odiasse por ter se deixado abater.
Uma vontade súbita de sair de mim e não mais encontrar-me assim. Abandonar-te nesse estado catatônico congelada dentro desse sofrimento que parece sair de seu sorriso amarelo e vazio.

Não suporta-me, porém, a ideia de te perder por aí nas sombras das ruas se esgueirando como uma lagartixa ou um bicho sem eira nem beira.

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